Friday, March 20, 2009

Interrail

Não há caminhos do mundo que evitemos conhecer. Simplesmente porque somos assim, evito explicar. Somos, evitando a todo o custo definições, cidadãs deste globo. Felizmente. E felizmente também a nossa casa é Lisboa e a nossa sala o Mundo, não temos ilusões. Somos os carris por onde nos tendemos a percorrer, somos os estofos castanhos, as mochilas nos cacifos e as vidas numa respiração ofegante de quem apanha o comboio, de quem encontra os comboios da vida. Chegamos envoltas em pó e histórias para contar, as calças mais rotas, os olhares mais ávidos, os pés mais sofridos, as cabeças mais alerta, mais resplandecentes. Amo tudo o que correu mal, e o que correu bem teve o doce sabor de continuidade da aventura. Adoro as malas presas na estação, os mendigos atentos, o museu fechado, perdermos o Pedro numa ponte, a barata no chuveiro e o Santos (trolha ou pedreiro, vá-se lá saber agora...). Sabe-me ainda aos crepes de Berlim, ao chuvoso de Paris, ao chocapic nas ruas de Split, à carne de Zagreb e às cervejas oferecidas por maravilhosos portugueses em dores de Budapeste. Sabe-me também aos cocktails de Praga e envolvo-me nos sorrisos de coleccionador de tantos e tantos (happy) meals.
Experiências do ser mais rica, mais, alegremente, velha, com a vivência de quem e para quem a vida é, pode ser, um feliz momento de mochila e chinelo no pé.

Obrigada.

3 comments:

isa said...

para além de tudo, ainda tenho entranhado um pôr-do-sol de pés estendidos em split, o sabor de uma refeição regada a vinho branco em berlim, uma prometida noite que ficou adormecida numas àguas furtadas em amesterdão (entre outras coisas em amesterdão, como uma casa-de-banho no mínimo estranha), tatuagens roubadas numa feira para crianças, uma noite interrompida pela chuva, o frio inesperado de um dia de calor intenso em auschwitz, planos de viagem num netpoint em budapeste, um primeiro pequeno-almoço que soube a liberdade em toulon, os cheiros de uma madrugada em cracóvia, os arrepios de uma noite em branco numa paragem de camionetas, as gargalhadas de um dia em cheio num momento de preguiça nas escadas de um museu, o sabor de uma cerveja a acompanhar a melhor vista depois de um dia de encontros deliciosos, as cores de uma mão cheia de unhas pintadas a matar a espera de um novo destino, um último crepe numa última corrida até ao último comboio de regresso.

tu bem sabes tudo o que estas lembranças me fazem reviver e tudo o mais que gostava de viver. vamos?
*
(às duas doidas)

Lu said...

Decididamente vamos! Vamos ao encontro do que faltou e, novamente, deixar outros locais para descobrir, de uma próxima vez!

Vocês têm o dom de recordar muito melhor do que eu. E por isso, adoro quando vocês se lembram e me recordam também!

Bjs

Maria Paulo Rebelo, said...

Deve ser uma grande experiencia... eu adorava fazer uma viagem semelhante... Imagino-a constantemente, mas mais ao género de calma e muita tranquilidade na rota, uma lifetime experience de cada vez, Hungria hoje, 28 de 2010 Itália, 28 de 2011 Egipto eteceterá! :D
Mas sim... não há melhor que puchar o firmamento bem junto a nós e ver nele nem qualquer limite, mas qualquer principio... não há melhor remédio para o tédio que uma partida para o nowhere! ;)