Thursday, April 29, 2010

Wordless

"Um dia, o mais provável é tornares-te num chato, deixares de sair à noite e comerçares a levar-te demasiado a sério. Nesse dia vais começar a vestir cinzento e beje, pedir para baixar o volume da música e deixar a tua guitarra a apanhar pó. Vais tornar-te politicamente correcto, socialmente evoluído, economicamente consciente. Vais achar que tens de ir para onde toda a gente vai, e assumir que tens de usar fato e gravata todos os dias. Nesse dia, vais deixar de beijar em público, as tuas viagens serão mais vezes no sofá e dormirás menos ao relento. É oficial, vais entrar na idade do chinelo e deixar de ser quem foste até então, vais deixar de te sentar ao colo dos amigos e vais esquecer-te como se faz um quantos-queres ou um barco de papel. Vais ficar nervosinho se não trocares de carro de quatro em quatro anos e desatinar se o hotel onde ficares não te der toalhas para o teu macio e hidratado rosto.Vais tornar-te muito crescido e começar a preocupar-te com tudo e com nada e a não fazer nada porque "vai-se andando" e a vida é mesmo assim. Vais dizer não mais vezes, vais ter mais medo, vais achar que não podes, que não deves, que tens vergonha. Vais ser mais triste. Nesse dia, o mais provável é que também deixes de beber refrigerantes.
Aqui fica uma ideia: Quando esse dia chegar, não lhe fales."

Thursday, April 22, 2010

O que sempre soube dos homens mas tive à mesma de perguntar (a generalização em pessoa)

“Normalmente tratam-nos bem, mas sabem ser brutos e ofensivos sem sequer reparar. São naturalmente defensivos com as mulheres, acham que devem ser assim. Não sabem bem o que quer dizer “nada”, “tu é que sabes” e “temos de falar” mas sabem que há uma grande probabilidade de terem feito merda. Não compreendem as mulheres e nem querem. A maior parte das vezes acham que a mulher está a exagerar e, invariavelmente, perguntam "mas qual é o problema?". Gostam de chamar paneleiros a alguns homens, especialmente se forem amigos das suas mulheres. Gostam de agir como um cão a fazer xixi à volta do território. Sabem ser bulldogs mas também cãezinhos amestrados, e, mesmo nestes casos, gostam de mostrar o dom da protecção, de dizer “está tudo bem” para assegurar que está tudo sob (seu) controlo. Apaixonam-se porque sim, não sabem bem a razão. Lêem pouco e orgulham-se. Aliás, gostam muito de se orgulhar de variadíssimas coisas onde centram a sua vida, desde o tamanho do seu pequeno “ego” até, incompreensivelmente, ao seu carro. Embora não admitam gostam de ser ensinados e moldados, ou, pelo menos, deixam facilmente que isso aconteça e fingem não perceber. Gostam de dominar. Gostam de uma mulher que os saiba dominar. Gostam que a mulher olhe para eles como seres que se enquadram bem num restaurante fabuloso, mas onde se sentem mesmo bem é numa tasca a comer o courato e a ver o Benfica. Têm uma relação visceral com a cerveja. Gostam de wisky no final de uma refeição. Mas jola é jola. Se o sexo vai bem, está tudo bem e só percebem que a relação vai mal quando chega aí. Consideram uma parvoíce gastar dinheiro em grandes vestidos e em pormenores. Vêm a mulher como um todo: ou está bonita, ou não está, não há cá “a calça fica-te bem na perna mas o top não condiz com os brincos que trazes”. Não discutem coisas pequenas. No entanto são capazes de, por coisas pequenas, andar à pancada e no final fazem um olhar de “se passas à minha frente mato-te”, mas nunca matam. Sabem ser óptimos pais, óptimos educadores, mas continuam a considerar que a mulher é que deve ser a encarregada de educação. São sempre machos e mesmo quando choram demonstram que estão a passar um oásis da sua existência. Sabem ser maus, mas não são gratuitamente maus, por mais mesquinha que seja a razão. Não perguntam indicações. Sabem sempre tudo. Quando não sabem fingem que lhes é indiferente. Estão-se borrifando se a mulher vai a um jantar de amigas, porque assim deixa-lhe a casa para ver a sportv 1, 2 e 3. Não admitem sequer a hipótese de que alguma vez serão traídos. Protegem-se uns aos outros de uma forma impressionante. Gostam de dizer asneiras. Gostam de chamar nomes aos amigos como forma de demonstrar afecto. Gostam de dormir nus. Gostam de fazer muita coisa nus. Gostam de se embebedar, ser sentimentais e depois dizer que foram sentimentais porque se embebedaram. Gostam de gostar de alguém a sério mas nunca, nem aí, deixarão de olhar para o decote de uma mulher e pensar “olha o que chove”. E isso não diminuirá em nada o que sentem.”
Nádia Costa

Wednesday, April 21, 2010

"O que sempre soube das mulheres mas tive à mesma de perguntar" - um arrepio que me deram, um riso e uma lágrima

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.

Rui Zink