Tuesday, February 07, 2012

Regresso

Há muito tempo que não escrevo. Faz mais de um ano que abandonei um pouco as palavras sem grande justificação. Parece-me que tem um pouco a ver com a falta de um tempo qualquer ou de uma inspiração qualquer ou por ter dedicado as palavras a outros espaços que não um-só-meu. é incrível entrar aqui e ver que o último texto/desvario foi a 10 de Fevereiro de 2011 porque desde então a Nádia talvez não seja bem a mesma nem o sol nem a vida nem o vento ou a chuva. Talvez estejamos a pairar numa realidade que não se adivinhava nesse tal 10 de Fevereiro. Não que algo de muito devastador (em tantos tanto sentidos) tenha efectivamente acontecido. Apenas andei a abusar dos advérbios de modo noutras paragens.
O que, de igual forma, me inquieta hoje, foi a necessidade de escrever. Queria - e deveria mesmo - entender esta necessidade de escrever. Não queria que houvesse uma justificação infeliz (em todos os significados da palavra) mas também não acredito que tais coisas venham de um acaso feliz de um dia de sol. Há sempre um motivo. Muitas vezes há um desanimo. Estarei eu desanimada? Necessitarei eu de acreditar que as palavras, as escritas, terão um significado maior do que eu? Eu não sei. Sinceramente parece-me que duvido de tudo um pouco ou de pouco um tudo. Posso fingir que tanta coisa não passa pela minha cabeça, mas passa. Esquizófrenias, parece-me. Aguardemos que a vontade não me passe. Assim o esperava e quereria. Sinal de? Acho que, até para isso, começo a precisar de ajuda.
Até já.

Thursday, February 10, 2011

Permissões

Tu-estás-errada.
Existe um típico receber, o nosso, que se constrói no pressuposto da sorte. A sorte em ser ensinado, em receber do mundo o ensinamento que nos permite uma felicidade (que nem sabemos bem ser este - ou não - o nome) que sonhámos ou que pensámos poder existir para lá do espelho corrente de todas as pessoas que correm pela rua até ao mar. Sonhámos poder alcançar um qualquer... estatuto (é como lhe chamam?) que permita dar a volta ao mundo em oitenta longos dias. E dou o meu corpo por este arrastar de tempo - não subestimes o poder da solidão inesperada, das córneas que te arrancam dos tempos felizes.
Sim, dão-me. E depois?
Eu recebo... e o que dou em troca?
Quando damos assim, a víscera da vida que é o tempo (tempo para poder, para desfazer, para despentear) estamos a abrir o nosso pequeno reino a uma entrada triunfal de um príncipe que não somos nós. Estamos a permitir que entrem pela janela do nosso íntimo, da nossa potência, naquilo que temos de mais profundo que é a capacidade de transformarmos o pão do mundo na nossa felicidade. Sugam-nos os momentos, as palavras e atiram as deles, para que possamos dar mais tempo a sugá-las, a repeti-las, a recriá-las... A diferença entre nós as duas é que tu queres dar o teu tempo para que to suguem, para que suguem a réstia de um eu que vai sendo esquecido, que for dado a sobrar. Queres ser o cordeiro que todos reconhecem, o negro, aquele cuja admiração depende de um aglomerado de feitos heróicos sem outro lado da mesa a quem partilhar. Queres o tudo que é o meu nada. Eu quero ser sempre livre, penso a liberdade como a minha pandora mais fechada, penso a liberdade como o porta-chaves espalhado pelo mundo. Ainda consegues compreender a diferença? Eu serei sempre capaz de almejar que o mundo, o real, é muito mais do que isto. Não acredito que o Homem exista para se definhar.

[Se gostaste de estudar, vais adorar trabalhar...]

Tuesday, December 28, 2010

Quem ser...

Parte das perguntas retóricas que coloquei na vida estavam repletas de amor, pingavam emoção, loucura, desejo. Agora desejam pingar paz, e ela não chega para ensopar um pano. Quero ser branca; intensa mas branca. Quero soltar o perfume da liberdade, o som do rio agitado. Quero poder encontrar uma verdade escondida em mim que me sossegue e descubra novos recantos da minha alma. Quero que me descubram. E, no fundo, quero tempo. Tempo para que tudo isto possa acontecer, tempo para que o tempo tenha a vontade própria de me dar a mão. Tempo para que as perguntas retóricas atirem o ponto ao chão. Onde é? Onde reside o limite? Que formas e trocas são necessárias para que nos olhemos e nos escudemos? Quem somos hoje? Quem sou agora? Quem ser agora...?

Monday, December 20, 2010

Borracha

Ciclos. Os ciclos. Como se, em algum momento as portas se abrissem e se fechassem, naqueles corredores em que elas nasceram, como se as opções estivessem ali, à mão, ao mesmo esforço. Que erróneo é pensarmos que mais tarde pensamos. Os nossos passos de hoje que são a componente do "e se" de amanhã definem quem escolhemos ser, quem vamos escolhendo ser. Não me enquadro neste grupo. E em qual? Quem é este ser com deveres de alma que opta por fingir que não estão lá, por fingir que a borracha é sua e o tempo não é mais para si.
Não. Te. Apagues. Simplesmente não deixes de ser tu a entregar-te a ti própria, os teus risos e as gargalhadas. Onde estão eles? Quem és tu? De onde vieram essas asas para passar por cima de tudo sem o escrever, sem te escreveres, sem compreenderes a imensidão de palavras que te buscam todos os dias e flutuam, passam pelos teus olhos e vão saindo pela tua testa. Deixa-las escapar?! Por favor N., não te apagues. Não te deixes. Nem que venham mil ciclos, não discrimines a tua potência de ser mais do que os outros que diariamente partilham as pedras que tu só pisas. Encarna-te. Como és. Como foste. Com o mundo que tu, sozinha, tanto queres carregar às costas. Porque quando eles chegam para te ajudar a carregar tu sorris, dizes que já os esperavas e, aí sim, sabes poder ser feliz.

Tuesday, October 12, 2010

Aqui

Pensei em escrever. Vociferantemente. Mas não deu. Não aconteceu. Não sai. Tristezas, várias. Como o cobertor que nos aquece e depois se esquece de aparecer.

Tenho frio.

Monday, October 04, 2010

Onde o arco íris nem sempre chega

Dei por mim a olhar para os seus pequenos dedos a agarrar no lápis. Depois olhei para os olhos que deglutiam o livro e sorriam com tamanha história. Depois olhou para mim e disse intrigada: "o que foi?" - "nada, apenas gosto de te ver ler". E gosto mesmo. As crianças têm o dom de nos trazer a vontade de pegar nelas e atira-las para aquele arco íris onde mora a felicidade. Deu-me para pensar que o que a separa de mim com aquela idade é o lugar onde eu nasci. Onde eu nasci não havia pessoas que atirassem lixo pela janela. Onde eu nasci, os pais não espancavam os filhos no meio da rua. Onde eu nasci os meninos com 14 anos não sabiam o que era uma butterfly. Onde eu nasci não gritávamos com os mais velhos nem os mandávamos calar aos berros. Onde eu nasci não havia meninos com marcas de cintos. Onde eu nasci os meus pais preocupavam-se que eu lavasse os dentes e a cara de manhã. Onde eu nasci os meus pais davam-me cereais ao pequeno-almoço e eu chegava à escola sem fome. Onde eu nasci... Onde ela nasceu... E, no entanto, os dedos dela são tão iguais aos meus... "Oh Nádia...". E ela riu-se com aquele riso aberto e quente de uma criança. E o meu sorriso morno foi derretido.
Afinal, We Are Changing Together...

Tuesday, September 14, 2010

Amor - Ódio

Repara no sol e como agora lhe sou tão alheia. Cheiro o teu espelho a rir-se de ti: cabelo despenteado e esfregar de olhos. Odeio-te. E tenho-te raiva. E tenho em mim o despertar miudinho de um sentimento interior contido. São assim os seres humanos: um orgulho tremendo em ser amado e um medo terrível em abrir a pele. Gosto do teu riso, principalmente quando é o verdadeiro, e, ao mesmo, nunca sei que o é. Sou controversa. Odeio-te, a ti, por esse meu quebrar de alma. Caco a caco vou repudiando o que és, na ânsia de te abraçar. És a única pessoa com quem perco as palavras. Conheces a sensação? Não as tenho, num mundo tiranizado em que eu falo, falo, falo, me enrolo em vírgulas e parto paredes com os meus pontos de exclamação, apenas te consigo chicotear a interrogação e, na maior parte das vezes, faz ricochete. Felizes eram os dias de marisco e pôr-do-sol, em que eu era eu, connosco, e tu apenas me fazias rir. O que é, quem é, o intervalo entre o que queremos e o que acontece? Guerras internas que queria poder atirar a ti, mas na verdade apenas me atiro por entre o branco do teu riso e o moreno da tua pele.

Monday, September 13, 2010

Friday, September 03, 2010

Eu [suspiro]

A ignorância, a despreocupação e o desinteresse são, muitas vezes, males necessários. Em quantos momentos terei eu já proferido a frase: "se fosse mais ignorante seria mais feliz". Ocasionalmente, tenho alguém que se lembra de me lembrar que já me esqueci do colorido sorridente dos pequenos dramas de quem pensa (pensando incessantemente, até na ponta do cabelo ou na pinta da retina). E sou mais eu. Por outro lado, a preocupação, a dita, que nesta sociedade é um sinónimo atroz de responsabilidade, é muitas vezes deixada de lado para me desculpar do rol de motivos de flores que coloquei na minha parede sem querer - ou sem dever - o que, para o efeito, é quase o mesmo. O desinteresse, por si, acresceu-me anos de sanidade mental e entusiasmo, louca era eu (ou ingénua) quando não compreendia que o desinteresse nos podia fazer mais fortes e mais bonitos e mais felizes (!).
Estranho é saber a razão da minha reflexão. Eles e os outros. Eu não posso comigo.

Wednesday, September 01, 2010

Agora somos iguais a eles

"São 5h30 da manhã, o despertador não pára de tocar e não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou acabada. Não quero ir trabalhar hoje.
Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir música, a cantar, etc. Se tivesse um cão levava-o a passear nos arredores. Tudo, menos sair da cama, meter a primeira e ter de por o cérebro a funcionar.
Gostava de saber quem foi a bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a ideia de reivindicar os direitos da mulher e porque o fez connosco que nascemos depois dela?
Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós, elas passavam o dia todo a bordar, a trocar receitas com as suas amigas, ensinando-se mutuamente segredos de condimentos, truques, remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos seus maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, recolhendo legumes das hortas e educando os filhos. A vida era um grande curso de artesãos, medicinas alternativas e de cozinha. Depois, ainda ficou melhor, tivemos os serviços, chegou o telefone, as telenovelas, a pílula, o centro comercial, o cartão de credito, a Internet! Quantas horas de paz a sós e de realização pessoal nos trouxe a tecnologia!
Até que veio uma tipa, que pelos vistos não gostava do corpinho que tinha, para contaminar as outras rebeldes inconsequentes com ideias raras sobre 'vamos conquistar o nosso espaço'...
Que espaço?!
Que caraças!
Se já tínhamos a casa inteira, o bairro era nosso, o mundo a nossos pés!
Tínhamos o domínio completo dos nossos homens, eles dependiam de nós para comer, para se vestirem e para parecerem bem à frente dos amigos...
E agora, onde é que eles estão? Agora eles estão confundidos, não sabem que papel desempenham na sociedade, fogem de nós como o diabo da cruz.
Essa piada, acabou por nos encher de deveres. E o pior de tudo é que acabou nos lançando no calabouço da solteirice crónica aguda! Antigamente, os casamentos eram para sempre. Porquê? Digam me porquê... Um sexo que tinha tudo do melhor, que só necessitava de ser frágil e deixar-se guiar pela vida começou a competir com os machos... A quem ocorreu tal ideia? Vejam o tamanhão dos bíceps deles e vejam o tamanho dos nossos! Estava muito claro que isso não ia terminar bem.
Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de ser magra como uma escova de dentes, mas com as mamas e o rabo rijos, para o qual tenho que me matar no ginásio, ou de juntar dinheiro para fazer uma mamoplastia, uma lipo, ou implantes nas nádegas... Além de morrer de fome, pôr hidratantes anti-rugas, padecer do complexo do radiador velho a beber água a toda a hora e, acima de tudo, ter armas para não cair vencida pela velhice, maquilhar-me impecavelmente cada manhã desde a cara ao decote, ter o cabelo impecável e não me atrasar com a madeixas, que os cabelos brancos são pior que a lepra, escolher bem a roupa, os sapatos e os acessórios, não vá não estar apresentável para a reunião do trabalho. E não só mas também, ter que decidir que perfume combina com o meu humor, ter de sair a correr para ficar engarrafada no transito e ter que resolver metade das coisas pelo telemóvel, correr o risco de ser assaltada ou de morrer numa investida de um autocarro ou de uma mota, instalar-me todo o dia em frente ao PC, trabalhar como uma escrava, moderna claro está, com um telefone ao ouvido a resolver problemas uns atrás dos outros, que ainda por cima não são os meus problemas!!! Tudo, para sair com os olhos vermelhos - pelo monitor, porque para chorar de amor não há tempo! E olhem que tínhamos tudo resolvido... Estamos a pagar o preço por estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, perfumadas, unhas perfeitas, operadas, sem falar do currículo impecável, cheio de diplomas, de doutoramentos e especialidades, tornámo-nos super-mulheres, mas continuamos a ganhar menos que eles e, de todos os modos, são eles que nos dão ordens!!!!
Que desastre! Não seria muito melhor continuar a cozer numa cadeira??
Basta!!!
Quero alguém que me abra a porta para que possa passar, que me puxe a cadeira quando me vou sentar, que mande flores, cartinhas com poesias,que me faça serenatas à janela! Se nós já sabíamos que tínhamos um cérebro e que o podíamos utilizar, para quê ter que demonstra-lo a eles??
Ai meu Deus, são 6h10 e tenho que me levantar da cama... Que fria está esta solitária e enorme cama! Ahhhh... Quero um maridinho que chegue do trabalho, que se sente ao sofá e me diga:
'Meu amor não me trazes um whisky por favor?' ou 'O que há para jantar?'... Porque descobri que é muito melhor servir-lhe um jantar caseiro do que abocanhar uma sanduíche e beber uma Coca-Cola light, enquanto termino o trabalho que trouxe para casa.
Pensas que estou a ironizar ou a exagerar? Não, minhas queridas amigas, colegas inteligentes, realizadas, liberais e idiotas! Estou a falar muito seriamente... Abdico do meu posto de mulher moderna.
E digo mais: A maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens esfalfarem-se a trabalhar para sustentar a nossa vida boa! Agora somos iguais a eles!"

Tuesday, August 24, 2010

(Não) pensar.

Oh como é belo o Homem quando pensa. Quando a raiz sábia do seu conhecimento rega os seus cabelos brancos. Que belo é ele, plantado sobre as letras, em correlação com as linhas, esticando-se para além delas. Oh que belo que é o homem, despenteando o seu desembaraço, embalando a cadeira ao seu duvidoso cercar de vidas, as suas perras ilusões e desilusões nos pensamentos livres de seus dedos. Oh que bela é a mulher, enrolando madeixas nos seus dedos, pendurando sobre os seus brincos as derradeiras imagens de seus medos, seus anseios, suas antagónicas concepções sobre o mundo, seu reconhecimento das vírgulas e dos pontos finais.
Oh que (mais) belos são estes quando não pensam.

Wednesday, August 11, 2010

Bolha

Criei uma bolha e imagino-a cor de rosa. Mas clarinha, quase translúcida, para que eu consiga ver bem para fora. Seleccionei quem queria que entrasse, criteriosamente mas sem grandes alaridos. Que claro e natural para mim foi ver entrar aqueles que amo. Não há, de facto, em mim, o medo de os deixar entrar, de irromperem pela minha pele e desapertarem a minha vida. Mais ou menos colados, andarão sempre comigo e comigo partilharão todos os beijos. Sei, secretamente, segregar o que é doce e não conto a ninguém que tenho um saquinho de amarguras guardado, salpicando alguns com umas que, tolerantemente, me esticam o ombro e a mão. Esbarro sempre com a sorte dentro da minha bolha e invariavelmente me pede que a saiba guardar, assim, numa pureza de coração, com o sentimento de descrença que devo ter no pessimismo, afastando-o, cinzento, do meu mundo colorido.
E assim vou andando. Com homens que são homens, mulheres que são mulheres e mundos paralelos.
Que bolha.

Tuesday, July 27, 2010

Tu, por aí...

Às vezes penso em como é. O Amor. Com A. Não penso na metafísica profunda de onde ele parte, que atraso mental nos atira para trás de nós em momentos em que antes apenas a nossa mente se rebuscava, sozinha, à procura de resposta. Penso no fenómeno riso e borboleta, no fenómeno cabelos ao vento e o cheiro do perfume ao fim do dia, penso no fenómeno a minha pele sobre a tua pele e a cabeça no teu peito enquanto os meus dedos vão acariciando a tua barriga e tu me contas o teu dia (ou eu, ou eu...). Penso no simples e no complexo, no todo de mim entre ti encostado ao tronco da vida, sem esperar pelo carro passar. Somos a nossa caravana e vamos orgulhando-nos, como quem não quer a coisa, entre um e outro suspiro e cada vez menos gritos, amuos e cabelos por pentear. Sei que me olhas como quem vê e tens sede de ver mais. É como se, a cada dia, fossemos mais aquilo que queremos ser e não nos importássemos com aquilo que passamos por esquecer. E sei que, se nos visse de fora, poderia invejar, todos os dias, o olhar que só ofereces a mim. Seres. Meu.