Wednesday, November 14, 2007

Eu

Quem sou eu que não um nós invertido? Um nós que tive com todos os seres que passaram na minha vida. Ou então não só os seres, porque os nós-seres é um de-menos. Talvez o "nós" com aquela estrada por onde passei que viu comigo as minhas solas gastas, ou aquele papel onde marrei para conseguir escrever, o seu cheiro como meu e os meus cabelos os seus fios quase invisíveis. Quem sou eu que não me descubro e por mais que passe o vento de norte me desperto sempre à minha porta que juro, a cada dia, não conhecer? Quem está perdido como eu, entre pensamentos de almas atribuladas, tédios reconhecidos em conversas de animos exaltados, beijos ardentes de lençóis só sonhados...? Quem é aquele que se auto-intitula ser, aquele que não está, que finge permanecer e acredita nesse fingimento que o engana, a ele e aos vis, aqueles que perpetuam o seu acreditar irreal. Ser eu, ser uma flor!, ser depende do ângulo. Quando estou a noventa graus, apenas aí, sou. Tudo o resto é assemelhar-me a qualquer outro que persegue um caminho até casa. Assemelho-me a qualquer outro tantas vezes, e nessas tantas vezes (e, quem engano eu?; noutras mais ainda) sou apenas um nome, eu e aquele vocativo estranho onde, por vezes, nem me reconheço. O melhor é que acredito poder ser, eventualmente, nesses momentos em que me questiono, apenas um tédio de mim.

("Moro no rés-do-chao do pensamento e ver a vida passar dá-me tédio")

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