Tu-estás-errada.
Existe um típico receber, o nosso, que se constrói no pressuposto da sorte. A sorte em ser ensinado, em receber do mundo o ensinamento que nos permite uma felicidade (que nem sabemos bem ser este - ou não - o nome) que sonhámos ou que pensámos poder existir para lá do espelho corrente de todas as pessoas que correm pela rua até ao mar. Sonhámos poder alcançar um qualquer... estatuto (é como lhe chamam?) que permita dar a volta ao mundo em oitenta longos dias. E dou o meu corpo por este arrastar de tempo - não subestimes o poder da solidão inesperada, das córneas que te arrancam dos tempos felizes.
Sim, dão-me. E depois?
Eu recebo... e o que dou em troca?
Quando damos assim, a víscera da vida que é o tempo (tempo para poder, para desfazer, para despentear) estamos a abrir o nosso pequeno reino a uma entrada triunfal de um príncipe que não somos nós. Estamos a permitir que entrem pela janela do nosso íntimo, da nossa potência, naquilo que temos de mais profundo que é a capacidade de transformarmos o pão do mundo na nossa felicidade. Sugam-nos os momentos, as palavras e atiram as deles, para que possamos dar mais tempo a sugá-las, a repeti-las, a recriá-las... A diferença entre nós as duas é que tu queres dar o teu tempo para que to suguem, para que suguem a réstia de um eu que vai sendo esquecido, que for dado a sobrar. Queres ser o cordeiro que todos reconhecem, o negro, aquele cuja admiração depende de um aglomerado de feitos heróicos sem outro lado da mesa a quem partilhar. Queres o tudo que é o meu nada. Eu quero ser sempre livre, penso a liberdade como a minha pandora mais fechada, penso a liberdade como o porta-chaves espalhado pelo mundo. Ainda consegues compreender a diferença? Eu serei sempre capaz de almejar que o mundo, o real, é muito mais do que isto. Não acredito que o Homem exista para se definhar.
[Se gostaste de estudar, vais adorar trabalhar...]
1 comment:
"penso a liberdade como o porta-chaves espalhado pelo mundo."
LINDO !
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