Tuesday, August 24, 2010

(Não) pensar.

Oh como é belo o Homem quando pensa. Quando a raiz sábia do seu conhecimento rega os seus cabelos brancos. Que belo é ele, plantado sobre as letras, em correlação com as linhas, esticando-se para além delas. Oh que belo que é o homem, despenteando o seu desembaraço, embalando a cadeira ao seu duvidoso cercar de vidas, as suas perras ilusões e desilusões nos pensamentos livres de seus dedos. Oh que bela é a mulher, enrolando madeixas nos seus dedos, pendurando sobre os seus brincos as derradeiras imagens de seus medos, seus anseios, suas antagónicas concepções sobre o mundo, seu reconhecimento das vírgulas e dos pontos finais.
Oh que (mais) belos são estes quando não pensam.

Wednesday, August 11, 2010

Bolha

Criei uma bolha e imagino-a cor de rosa. Mas clarinha, quase translúcida, para que eu consiga ver bem para fora. Seleccionei quem queria que entrasse, criteriosamente mas sem grandes alaridos. Que claro e natural para mim foi ver entrar aqueles que amo. Não há, de facto, em mim, o medo de os deixar entrar, de irromperem pela minha pele e desapertarem a minha vida. Mais ou menos colados, andarão sempre comigo e comigo partilharão todos os beijos. Sei, secretamente, segregar o que é doce e não conto a ninguém que tenho um saquinho de amarguras guardado, salpicando alguns com umas que, tolerantemente, me esticam o ombro e a mão. Esbarro sempre com a sorte dentro da minha bolha e invariavelmente me pede que a saiba guardar, assim, numa pureza de coração, com o sentimento de descrença que devo ter no pessimismo, afastando-o, cinzento, do meu mundo colorido.
E assim vou andando. Com homens que são homens, mulheres que são mulheres e mundos paralelos.
Que bolha.

Tuesday, July 27, 2010

Tu, por aí...

Às vezes penso em como é. O Amor. Com A. Não penso na metafísica profunda de onde ele parte, que atraso mental nos atira para trás de nós em momentos em que antes apenas a nossa mente se rebuscava, sozinha, à procura de resposta. Penso no fenómeno riso e borboleta, no fenómeno cabelos ao vento e o cheiro do perfume ao fim do dia, penso no fenómeno a minha pele sobre a tua pele e a cabeça no teu peito enquanto os meus dedos vão acariciando a tua barriga e tu me contas o teu dia (ou eu, ou eu...). Penso no simples e no complexo, no todo de mim entre ti encostado ao tronco da vida, sem esperar pelo carro passar. Somos a nossa caravana e vamos orgulhando-nos, como quem não quer a coisa, entre um e outro suspiro e cada vez menos gritos, amuos e cabelos por pentear. Sei que me olhas como quem vê e tens sede de ver mais. É como se, a cada dia, fossemos mais aquilo que queremos ser e não nos importássemos com aquilo que passamos por esquecer. E sei que, se nos visse de fora, poderia invejar, todos os dias, o olhar que só ofereces a mim. Seres. Meu.

Friday, July 16, 2010

A S.

"Tenho tanta sorte em conhecer-te" e tenho tanta sorte em conhecer-te... eu crio a minha bolha, tu entras na minha bolha e rimo-nos muito juntas. Ocasionalmente apanhas borboletas nos meus olhos e as colores um bocadinho mais. Quando mas devolves é como se eu já tivesse uma pequena vontade de chorar. De felicidade. E mesmo quando ninguém consegue compreender a necessidade, tu abres o teu saquinho escondido e perguntas-me se eu quero chorar lá para dentro. Tudo o que digas depois, mesmo que me atinja o peito e te baloices cá dentro (acredito que o nosso parque só tem baloiços... que importam os escorregas?!) vai ser só a consequência desta nossa caçada, gargalhadas, arma em punho e mão dada por aí.

Sei que sabes que sei que sabes...

Tuesday, July 13, 2010

És

É com orgulho que te tenho na minha vida. É com luz, um preenchimento diferente, um lugar que só dou aos melhores. Ser dos teus melhores abre o meu sorriso. O que tu fizeste por nós, naqueles momentos, naqueles instantes, foi trazer-nos uns para os outros, foi levar-nos novamente para aquele ponto de magia que tem faltado na maioria das nossas vidas. E não vou poder agradecer-te o suficiente por me teres feito, assim, profundamente feliz.

Obrigada.

Monday, July 05, 2010

São Tomé...

Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, tutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.


Caetano da Costa Alegre

Friday, July 02, 2010

Nunca perceberás...

Quem nunca esteve não compreende, não antecipa a lágrima de apenas um pensamento, não se reúne em memórias para ser mais completo. Não percebe a tatuagem. E nunca compreenderá o resto. O anseio, o sorriso, a luz que ilumina o corpo e a alma quando vemos a placa ao longe.

E nessa estrada gigante (que nos parece gigante) até lá acima, a excitação aumenta, enquanto se transforma também num calor imenso. Não, nunca serás capaz de compreender: não é apenas um parque de estacionamento... ali já gritei "bomba" tantas vezes, ali me escondi para não me caçarem, ali chorei a entrar no meu carro. E há tanta coisa que não consigo transmitir-te em palavras, não consigo que me ouças e que compreendas a minha ânsia em contar, em envolver, em fazer-te entender que não é só um lugar, não será nunca só um lugar. E quando te mostrar, não lhe chames casa branca redonda: é o redondel! Qual é a dúvida?! E é o bidonville, e é a sauna (não, não é forrada a madeira, nem tem um balde de água fria! - é a sauna, não questiones, deixa-lhe intocado o estatuto). Queria não ter de explicar o conceito de banho de cadeira, de dormir no centro da casa, do leaving on a jet plane, da discoteca, da casa do pão, de lançar o prato, do jogo do nunca, da melhor xixa de sempre, de pão com nutella (de pão com nutella!!), de chocapic, de receita, da auto-contagem, do chinese monkey, da port of the disco, do can I speak now, da glamorosa, do beija beija e do cowboy veado, do anfiteatro, da carrinha, do gelado partilhado no final, dos abraços, da gincana, dos activos, dos criativos, dos colchões juntos, das conversas sobre tudo porque connosco não existe o "não vou falar, não vou contar, não me dou"... Consegue-se ver através de mim?

Será que consigo explicar-te o cheiro das árvores? Já fui a tantas quintas e nunca nenhuma me cheirou assim. Já muitas vezes fui à quinta e não tem o mesmo cheiro que a meio de um campo de férias.

É como o cheiro da big house. Que nem é big. Mas é nossa. E nos inspira. E nos move. E muda o nosso mundo. E cheira a saudade.

Tuesday, June 29, 2010

Brisas de sul

E retira-se o sorriso. Uma fuga, perda, o manifesto profundo de uma necessidade de alma que, quando aparece, se confunde com um vazio que se revolta vezes sem conta. E o (tal) sorriso desvanece-se. E a alma? Partida. Do sopro de sul podem advir muitas gargalhadas fáceis, boas, deliciosas, engates de uma noite. E depois o acordar sem a intensidade inspirada pela noite anterior. Sentimos que aí nos abandona o vento de norte, quente, aquele chamado, em verdade, nortada. A vontade. Pura. Aquela que nos leva o cabelo para trás e de onde o passado recolhe o sonho. E agora já só tão apenas sonho. Quero manter a fantasia. Manter.
E um sorriso maior.

Thursday, June 24, 2010

...

Sou de impulsos. De perigosos. Sou de dar. Mas tiro. Choro. Choro fácil nas injustiças, nas dores daqueles, os tais. Mais perigoso é quando as lágrimas secaram e fica só a dor, a angústia, a secar mais um pouco o que já era mirrado, descrente.

Preciso que me reguem.

Wednesday, June 16, 2010

Perda, a sem sentido

Quero mas não consigo compreender como chegou aqui. Um pequeno momento cheio de vidas, palavras que traziam às costas dores antigas, recentemente cuspidas, para confrontos que (acredito, com pena) serem finais. Sempre foi assim? Ou sempre teve potencial para se tornar nisto? Ou apenas, mudámos, crescemos, (não) evoluímos?

Eu vivo, e sei-o bem, na eterna vontade de abraçar os meus amigos. E mesmo que os não tenha perto sempre, mesmo que os não possa agarrar em gargalhada todos os dias, sei que são meus. Os meus. E cada um deles vale por si. Vale-me. Vale o meu pedaço de vida que quero, tenho, só-posso partilhar com eles. Sou um bocado de cada um. E quando um cai eu estico o braço para o agarrar. E esticarei uma e outra vez. Até ao fim do mundo que me deram.

[incrível é querer acreditar em duas verdades]

Monday, June 14, 2010

[sem título; um suspiro apenas]

Raramente nos associamos a tão grandes causas. Associamo-nos aquele clube, aquela estrutura que nos alivia pesos, aos pequenos nadas (que dão gosto) da vida. Ora, deveríamos associar-nos antes ao amor. Esse tão grande alívio de nossas costas, grande suspiro e falta de ar, excesso de ar, intempéries de desconhecimentos conhecidos, nos lençóis ou na calçada, da vida vivida, recursos de momentos que foram poucos para tanto.

E depois a ressaca. Porque ela magoa e fere, mas gosto de chegar antes para te ver chegar. Uma e outra vez. Até ao dia chamado sempre.

Estou de ressaca.

Tuesday, May 18, 2010

Quatro corpos e uma saudade

Desde já admito a minha falta de espírito nestas matérias. Não sei ser, e não tenho medo de o dizer. Não sei. E ponto.
Talvez devesse esconder-me mais, pôr menos à consideração do (meu) mundo aquilo que me passa na alma, me apoquenta e me alivia. E vocês aliviam-me. Não tenho aquele receio de pensarem na minha tão malfadada dependência. São ar, para mim, e os meus pulmões clamam todos os dias por uma respiração mais plena e gargalhada.
Onde estão vocês nestes magníficos dias de sol? Onde estão os teus olhos azuis, verdes e castanhos? Continuação do meu eu tão fraco por vezes onde sou forte e vos amparo as dores?
Quero a nossa esquina e um café. Sussurros da partilha diária que agora me tira vida e me agonia.
Preciso de vocês. Quero dizê-lo. Falta-me fôlego. Já. E preciso de vocês.