Monday, December 29, 2008

Tu.

"I've got to let you know..."
Ele acordou e reparou que a cama estava vazia. Ainda com os olhos fechados apalpou o espaço ao seu lado e com força cerrou os olhos. Espreguiçou-se e abanou os pensamentos para acordar uma mente cansada. Abriu sorrateiramente os olhos e quis acreditar que vinha algum barulho de outro qualquer lugar da casa, barulho a pequeno almoço a ser preparado, prenúncio de cama sorrida. Nada. Sentou-se na cama e pôs a cabeça entre as mãos, alinhou o cabelo e o pesadelo e percebeu que estava só. E desta vez, pela primeira, verdadeiramente só. Talvez nunca tenha entendido que os colarinhos já não eram seus e o nó da gravata não estava obrigatoriamente apertado. Nunca tenha entendido que a fronha se partilhava, o copo da casa de banho se dividia naturalmente e a camisa branca lhe ficava muito melhor a ela do que encravada nas calças dos seus fatos. Na mesa de cabeceira um bilhete sem argumentos, palavras docemente duras, como quem descalça, como quem o descalça. Ele, o primeiro a desatar os atacadores, ele, o indescalçável. Entendeu. Ela era mais ele do que ele. Cerrou os punhos. Tapou a cabeça e, sem perceber, chorou.
"...You're not my type!"

2 comments:

Maria Paulo Rebelo, said...

WOW!
É-lhes tão fácil fazer o seu jogo, imponentes machos, soberanos e lords do seu trono com a plebe ajoelhando-se, venerando-o. Dá-lhes (alguns) tanto gozo serem assim, usarem e abusarem sem se metamorfosearem em terceiro corpo por breves instantes, rápido segundo que fosse, sem sequer imaginarem (duas vezes, UMA sequer!) a amargura de manhã vestida, o silêncio ao almoço engolido, a desconsideração à saída "calçada" ou a solidão muitas vezes ao pescoço colocada... Mulheres digam-no: quantos sapos engolem por dia? Gosta-se, aproveita-se, suga-se até mais não se puder (até ela não puder, não ele), até já não se aguentar (até ela não aguentar, não ele). E faz-se tudo isto sem um afago, uma qualquer recompensa, um singelo sorriso, bastante para lhe assolar o coração da lembrança, do pequenino gesto (tão grande para ela)... não não não para ele são tudo prémios!, é tudo receber e nada dar! Ela por mim/para mim e basta. Ela para tudo e eu com esse tudo. Ela ficará satisfeita com algum tudo nos anos, no Natal e em Fevereiro (como te enganas que coração de mulher exige-o a toda a hora). Ahhhh porque não vêm eles as migalhas na mesa quando elas por si de tanto alimentam! Porque é tão difícil encontrar o que veja e não se limita a olhar?, aquele a quem nada passe despercebido?, aquele que quer ver e dá valor ao que ela quer que ele veja?!

Não merece consideração, dedicação, partilha, quem não quer ver o amor detrás das migalhas! Quem se recusa a ver as migalhitas!

Adorei o texto moça, como aliás, já é habitual! :D

Take care*

AquiloQueEuSou said...

Muito bom :) *gostei*