Wednesday, November 12, 2008

Vontades.

Às vezes tenho vontades. Sou uma mulher de vontades. As pessoas têm vontades, as mulheres têm vontades, os homens têm vontades. Idiotas. Muitas vezes, ignóbeis desprovidas de sentido. Hoje tenho vontades.

Quero loucamente que se parta um vidro do escritório e que fiquemos dois dias sem trabalhar. Quero ganhar um prémio para conduzir muito rápido num carro de rali. Quero desligar o telemóvel e desaparecer por dois dias e aparecer como se nada fosse e por isso levar tareia dos meus (preocupados) amigos. Quero gritar com alguém no trânsito e que ele saia do carro e me queira bater. Quero partir vinte pratos num restaurante chinês. Quero atirar tremoços à cabeça de alguém. Quero parar o carro no meio do nada e dormir lá uma noite. Quero adormecer na praia debaixo da areia. Quero que as minhas amigas quando me virem se finjam histéricas como se não me vissem há dois meses e me encham de beijos no meio da rua. Quero cantar no metro e que toda a gente fique a olhar para mim e a pensar que eu fugi do Júlio de Matos. Quero que o condutor do carro ao meu lado me diga adeus. Quero que se metam comigo no metro. Quero dar um estalo merecido a alguém. Quero entornar vinho tinto "ocasionalmente" em cima de alguém de quem não goste. Quero que um homem fantástico me bata no carro e que troquemos números de telefone mesmo que nunca mais nos falemos. Quero entrar no aeroporto e comprar um bilhete para Xangai. Quero meter-me no avião sem dizer nada a ninguém. Quero comprar um São Bernardo e que ele me encha de baba. Quero furar um pneu na autoestrada e ligar a toda a gente que eu conheço a pedir ajuda para que quando todos cheguem se crie um pequeno festim. Quero embebedar-me à porta da estação e que me confundam com um mendigo. Quero arrumar carros por uma tarde. Quero ir a pé do Alto de São João ao Cais do Sodré. Quero estar na ponte para gozar com os que vão correr a maratona. Quero que os meus amigos sejam meus amigos e não que me peça desculpa por não terem sido. Quero começar-me a rir no meio da rua quando me lembro de alguma coisa sem me preocupar com quem vê. Quero andar de taxi e inventar que sou irmã da Claudisabel e cantarmos juntos "Preciso de um herói". Quero desatar a correr na baixa sem razão aparente e que as pessoas me sigam por no reason at all. Quero convencionar que um dia por mês me visto só de verde e finjo que é normal. Quero mandar uma carta a toda a gente que conheço a dizer: ri-te que eu estou a ver-te, e imaginar quem se riu e quem me insultou. Quero pedir desculpa aos gritos na rua e fazer cenas de amor louco numa tarde ao sol.

Para quando?

8 comments:

Unknown said...

Tanta tata vontade... Beijão gigantão!

Anonymous said...

para quando? ... para quando quiseres, 90% dessas coisas, só dependem de ti! kiss*

p.s.: não faças aquela de desaparecer sem avisar os amigos, believe, it´s not funny for them!

Anonymous said...

O comentário que esperavas, mas que não é digno de tal espera…


Obrigado.

Chegar de manhã ao escritório, para mais um dia cinzento, estúpido, tirado a papel químico de demasiados outros, em que pouco ou nada faz sentido, e de repente levar com isto in my face, foi das melhores prendinhas que recebi nos últimos tempos.

Foi um soco no estômago, como só aquela música, aquele filme, ou aquele momento que fica para sempre provocam.

Viver, muito, tudo, incessantemente, excessivamente, como se o próximo fôlego fosse o último. É a diferença entre ser, e estar por cá.

E Tu És.

Lamentavelmente, com esse Ser vem a percepção do absurdo entediante que são a maior parte dos nossos dias.

Mas vais Ser sempre, nunca te esqueças disso, nem nas horas mais negras, nem nos momentos mais tristes, nem quando parecer que a vida te foge entre os dedos.

Mais, não só És, como sempre que ofereces algo tão bonito de ti, ajudas a que outros Sejam.

Muito Obrigado.


Porque não para já?

Nádia said...

Podes ser meu companheiro na demanda destas vontades... e deixar que os tremoços sejam atirados à tua cabeça... Vamos? :)

Obrigada eu.

Nádia

Anonymous said...

O comentário que esperavas, mas que não é digno de tal espera…


Anytime you want...

Mas sinto-me obrigado a advertir que os tremoços podem implicar uma vingança terrível que poderia constar de algo que não tenho arte para escrever.

**

pisanus said...

Quero... contigo!

[r] said...

andas com umas vontades destruidoras...gosto...e alinho!

Já!

Maria Paulo Rebelo, said...

Como é interessante ver que há certos dias em que poderia dizer que não me importava nada de partilhar essas tuas vontades! A felicidade exige-o! O desmazelo incentiva-o! Chamam-nas a consciência pesada do dia-a-dia cansativamente monótono e angustiante! Demandam-nas as outras pessoas que nos provocam e nos desiludem!

Ah, sensação efémera de prazer! Tomara eu recorrer a ti sempre que pudesse para esquecer, nem por momentos vãos, essas pedras que temem em soltar-se para me fazer cair a cada passo!

Puff..

Take care,
Maria Rebelo

(BAMBAACHA!) post scriptum: quão rico é o passado dos vivos e tão valiosa a sua memória!