Deveríamos dizer a palavra melancolia tantas vezes quantas a sentimos. Talvez me digam que a palavra não foi criada para ser enunciada quando ocorre, simples e autenticamente, o sentimento. E, realmente, se quisessemos fazer das acções uma pequena precedência das palavras, espirrávamo-las com uma velocidade incontornável. Eu sei mas... só nos queria dar aquela sensação de ridículo, fazer com que cada ser compreendesse o que é inevitável. "Estou melancólica" melancolia, melancolia, melancolia... até me rir com a crença profunda de ter perdido a minha sanidade mental. E aí se ia a melancolia, com um olhar reprovador e nefasto, acreditando, esperançosa, que me faria tropeçar outra vez. Não creio que a palavra se importásse que todos a disséssemos tanto que a abolíssemos, um dia, desnecessária. Não, enganam-se, não estou a fazer um elogio à ausência de rotina. Estou a fazer um elogio à rotina misturada [desmesuradamente batida] com a sua ausência. Não me importo de beber um café de manhã, todos os dias, e maquinalmente projectar todos os gestos. Gosto muito. Feliz o momento, diiiiiiiário, em que visto ao sair do banho o meu quente roupão amarelo. Deliciosa a torrada (nem muito nem pouco) onde barro aquela manteiga dos Açores, todos os dias. Mas também, não principalmente mas também, uma felicidade na loucura de um dia diferente, um corrupio que palpita naquele exacto momento gravado, uma intensidade daquele só segundo que se prolonga no tempo que eu já não tinha naquele dia em que já não pensava que tinha o tempo para ter o que não era (nada) igual. Agora quero enxotá-la, essa melancolia, doença dos saudáveis seres que pensam e se deixam pensar.
Agora...
Melancolia, melancolia, melancolia...
1 comment:
sofro do mesmo dilema que tu!
Post a Comment