Visitei-te (como tantas vezes): tinhas os meus olhos, os meus cabelos, as minhas unhas. Usavas essa franja inglória e a cor azul como o perfume dos meus fiéis antepassados. Cerrei os olhos. Não te queria ver. A pouco e pouco fui franzindo o sobrolho para compreender se estarias mesmo ali e encaravas-me com a expressão ávida de sempre me conhecer e não mais subir os meus degraus, recriá-los, evoluir. O adro da igreja paria as modas e o meu sussurrar confuso desamparava-te gargalhadas; eu sorria, melindrada, à minha paixão com espinhos. Usavas a minha camisa, uma branca, que sempre foi branca mas que fica mais branca em ti. Fintaste os olhares de tantos outros para te escancarares no meu, desbravares esse caminho que sabias ser incapaz de engolir sozinho.
Ficaste pasmado de me ver partir aquelas muralhas, de me ver percorrer os montes, cobiçar as almas e as filosofias, manusear a minha percepção de um mundo encantado, onde a limitação sou eu e eu não me limito. Tiveste medo. Por isso ali ficaste, para sempre, longe, onde o sol nasce e o meu amor se põe.
2 comments:
Este tipo de pensamentos às vezes assole-me a alma quando me olho ao espelho. Sensação arrasadora de nos descrevermos por 5 minutos que sejam. É tão difícil! Eu, por exemplo, na luta pelas enumerações qualificativas tropeço sempre nas virtudes, parece que nem as conheço, ou que nem quero conhecer. Enfim... Mas achei que o fizeste optimamente, :D, como, aliás, sempre fazes!
Esta lindo.....
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