Tuesday, June 29, 2010

Brisas de sul

E retira-se o sorriso. Uma fuga, perda, o manifesto profundo de uma necessidade de alma que, quando aparece, se confunde com um vazio que se revolta vezes sem conta. E o (tal) sorriso desvanece-se. E a alma? Partida. Do sopro de sul podem advir muitas gargalhadas fáceis, boas, deliciosas, engates de uma noite. E depois o acordar sem a intensidade inspirada pela noite anterior. Sentimos que aí nos abandona o vento de norte, quente, aquele chamado, em verdade, nortada. A vontade. Pura. Aquela que nos leva o cabelo para trás e de onde o passado recolhe o sonho. E agora já só tão apenas sonho. Quero manter a fantasia. Manter.
E um sorriso maior.

Thursday, June 24, 2010

...

Sou de impulsos. De perigosos. Sou de dar. Mas tiro. Choro. Choro fácil nas injustiças, nas dores daqueles, os tais. Mais perigoso é quando as lágrimas secaram e fica só a dor, a angústia, a secar mais um pouco o que já era mirrado, descrente.

Preciso que me reguem.

Wednesday, June 16, 2010

Perda, a sem sentido

Quero mas não consigo compreender como chegou aqui. Um pequeno momento cheio de vidas, palavras que traziam às costas dores antigas, recentemente cuspidas, para confrontos que (acredito, com pena) serem finais. Sempre foi assim? Ou sempre teve potencial para se tornar nisto? Ou apenas, mudámos, crescemos, (não) evoluímos?

Eu vivo, e sei-o bem, na eterna vontade de abraçar os meus amigos. E mesmo que os não tenha perto sempre, mesmo que os não possa agarrar em gargalhada todos os dias, sei que são meus. Os meus. E cada um deles vale por si. Vale-me. Vale o meu pedaço de vida que quero, tenho, só-posso partilhar com eles. Sou um bocado de cada um. E quando um cai eu estico o braço para o agarrar. E esticarei uma e outra vez. Até ao fim do mundo que me deram.

[incrível é querer acreditar em duas verdades]

Monday, June 14, 2010

[sem título; um suspiro apenas]

Raramente nos associamos a tão grandes causas. Associamo-nos aquele clube, aquela estrutura que nos alivia pesos, aos pequenos nadas (que dão gosto) da vida. Ora, deveríamos associar-nos antes ao amor. Esse tão grande alívio de nossas costas, grande suspiro e falta de ar, excesso de ar, intempéries de desconhecimentos conhecidos, nos lençóis ou na calçada, da vida vivida, recursos de momentos que foram poucos para tanto.

E depois a ressaca. Porque ela magoa e fere, mas gosto de chegar antes para te ver chegar. Uma e outra vez. Até ao dia chamado sempre.

Estou de ressaca.

Tuesday, May 18, 2010

Quatro corpos e uma saudade

Desde já admito a minha falta de espírito nestas matérias. Não sei ser, e não tenho medo de o dizer. Não sei. E ponto.
Talvez devesse esconder-me mais, pôr menos à consideração do (meu) mundo aquilo que me passa na alma, me apoquenta e me alivia. E vocês aliviam-me. Não tenho aquele receio de pensarem na minha tão malfadada dependência. São ar, para mim, e os meus pulmões clamam todos os dias por uma respiração mais plena e gargalhada.
Onde estão vocês nestes magníficos dias de sol? Onde estão os teus olhos azuis, verdes e castanhos? Continuação do meu eu tão fraco por vezes onde sou forte e vos amparo as dores?
Quero a nossa esquina e um café. Sussurros da partilha diária que agora me tira vida e me agonia.
Preciso de vocês. Quero dizê-lo. Falta-me fôlego. Já. E preciso de vocês.

Thursday, May 06, 2010

Despedidas...

Há coisas incríveis - and so they say. Incrível o facto de tu roeres a unha e eu não, incrível o facto de gostares de favas e elas agoniarem-me, incrível o facto de gostares de correr e eu não conseguir correr cem metros sem expirar um pulmão. Há coisas incríveis. É incrível como é nos entretantos, nos meandros, nos momentos não-pensantes de uma relação, que ela visivelmente se opera. Não quero que gostemos os dois de dançar se aceitares ver-me dançar e eu aceitar ver-te nadar uma tarde inteira. Mas, por favor, deixa-me chegar a esse patamar, deixa-nos querê-lo, como ar, como um anoitecer tardio de Verão. E, para isso, para um querer-ser em conjunto, tens de me abrir a porta e deixar entrar. Nada conseguirás de mim se ma trancares, se me deixares indefinidamente no patamar. Sei de um momento, aquele momento, em que eu virarei as costas, descerei as escadas, sempre com o olhar na porta, bem devagar, preparada para voltar a subir a correr, mas indo, sem parar.
É que..., quando abrires a porta com um sorriso, verás apenas a parede branca e o corrimão. Podem até ainda ter o meu perfume, mas não me trarão de volta.

Thursday, April 29, 2010

Wordless

"Um dia, o mais provável é tornares-te num chato, deixares de sair à noite e comerçares a levar-te demasiado a sério. Nesse dia vais começar a vestir cinzento e beje, pedir para baixar o volume da música e deixar a tua guitarra a apanhar pó. Vais tornar-te politicamente correcto, socialmente evoluído, economicamente consciente. Vais achar que tens de ir para onde toda a gente vai, e assumir que tens de usar fato e gravata todos os dias. Nesse dia, vais deixar de beijar em público, as tuas viagens serão mais vezes no sofá e dormirás menos ao relento. É oficial, vais entrar na idade do chinelo e deixar de ser quem foste até então, vais deixar de te sentar ao colo dos amigos e vais esquecer-te como se faz um quantos-queres ou um barco de papel. Vais ficar nervosinho se não trocares de carro de quatro em quatro anos e desatinar se o hotel onde ficares não te der toalhas para o teu macio e hidratado rosto.Vais tornar-te muito crescido e começar a preocupar-te com tudo e com nada e a não fazer nada porque "vai-se andando" e a vida é mesmo assim. Vais dizer não mais vezes, vais ter mais medo, vais achar que não podes, que não deves, que tens vergonha. Vais ser mais triste. Nesse dia, o mais provável é que também deixes de beber refrigerantes.
Aqui fica uma ideia: Quando esse dia chegar, não lhe fales."

Thursday, April 22, 2010

O que sempre soube dos homens mas tive à mesma de perguntar (a generalização em pessoa)

“Normalmente tratam-nos bem, mas sabem ser brutos e ofensivos sem sequer reparar. São naturalmente defensivos com as mulheres, acham que devem ser assim. Não sabem bem o que quer dizer “nada”, “tu é que sabes” e “temos de falar” mas sabem que há uma grande probabilidade de terem feito merda. Não compreendem as mulheres e nem querem. A maior parte das vezes acham que a mulher está a exagerar e, invariavelmente, perguntam "mas qual é o problema?". Gostam de chamar paneleiros a alguns homens, especialmente se forem amigos das suas mulheres. Gostam de agir como um cão a fazer xixi à volta do território. Sabem ser bulldogs mas também cãezinhos amestrados, e, mesmo nestes casos, gostam de mostrar o dom da protecção, de dizer “está tudo bem” para assegurar que está tudo sob (seu) controlo. Apaixonam-se porque sim, não sabem bem a razão. Lêem pouco e orgulham-se. Aliás, gostam muito de se orgulhar de variadíssimas coisas onde centram a sua vida, desde o tamanho do seu pequeno “ego” até, incompreensivelmente, ao seu carro. Embora não admitam gostam de ser ensinados e moldados, ou, pelo menos, deixam facilmente que isso aconteça e fingem não perceber. Gostam de dominar. Gostam de uma mulher que os saiba dominar. Gostam que a mulher olhe para eles como seres que se enquadram bem num restaurante fabuloso, mas onde se sentem mesmo bem é numa tasca a comer o courato e a ver o Benfica. Têm uma relação visceral com a cerveja. Gostam de wisky no final de uma refeição. Mas jola é jola. Se o sexo vai bem, está tudo bem e só percebem que a relação vai mal quando chega aí. Consideram uma parvoíce gastar dinheiro em grandes vestidos e em pormenores. Vêm a mulher como um todo: ou está bonita, ou não está, não há cá “a calça fica-te bem na perna mas o top não condiz com os brincos que trazes”. Não discutem coisas pequenas. No entanto são capazes de, por coisas pequenas, andar à pancada e no final fazem um olhar de “se passas à minha frente mato-te”, mas nunca matam. Sabem ser óptimos pais, óptimos educadores, mas continuam a considerar que a mulher é que deve ser a encarregada de educação. São sempre machos e mesmo quando choram demonstram que estão a passar um oásis da sua existência. Sabem ser maus, mas não são gratuitamente maus, por mais mesquinha que seja a razão. Não perguntam indicações. Sabem sempre tudo. Quando não sabem fingem que lhes é indiferente. Estão-se borrifando se a mulher vai a um jantar de amigas, porque assim deixa-lhe a casa para ver a sportv 1, 2 e 3. Não admitem sequer a hipótese de que alguma vez serão traídos. Protegem-se uns aos outros de uma forma impressionante. Gostam de dizer asneiras. Gostam de chamar nomes aos amigos como forma de demonstrar afecto. Gostam de dormir nus. Gostam de fazer muita coisa nus. Gostam de se embebedar, ser sentimentais e depois dizer que foram sentimentais porque se embebedaram. Gostam de gostar de alguém a sério mas nunca, nem aí, deixarão de olhar para o decote de uma mulher e pensar “olha o que chove”. E isso não diminuirá em nada o que sentem.”
Nádia Costa

Wednesday, April 21, 2010

"O que sempre soube das mulheres mas tive à mesma de perguntar" - um arrepio que me deram, um riso e uma lágrima

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.

Rui Zink

Thursday, March 25, 2010

...

Deitaste-me sobre a mesa.
Dissecaste o meu olhar ávido, meu desejo de aventura.
Tuas mãos perscrutaram o licor da minha alma, deglutiste a minha força, inteiraste-te do meu cérebro, sussuraste em mim.
Invadiste o meu umbigo, quebraste sem temor os movimentos do meu pensar.
E quando me olhaste, metade, terra, tensão, mergulhaste no meu fôlego, tiraste-me os "ses", tiraste-me o "não".

Monday, March 15, 2010

Estejamos vivos. À nossa.

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"
Pablo Neruda
Thanks M.

Sunday, March 14, 2010

Desse (teu) lado

Imponho-me parar. Avaliar-me como nunca, porque nunca me reconheci uma incapaz de ser, diferente, o mesmo ou mais. Uma limitação perturbadora de quem ama. Ora queremos demais, ora queremos que nos dêem demais, e um dia olhamos a profundidade de um olhar e quedamo-nos num reflexo do que quisemos com tanta força que não nos pudemos imaginar ali. Ali. Na verdade, a chave para o melhor relacionamento é fazermos com que cada dia seja um primeiro encontro, conhecermos qualquer coisa nova, uma pestana, o que for!, mas com o trunfo crescente de um conhecimento maior, do beijo nos envolver mais deliciosamente na clara certeza de um copo de chá quente. Não nos enganemos, nunca!, haverá sempre uma nova ou antiga pestana a conhecer. Há um cérebro tão complexo e rocambolesco como o nosso do outro lado. Ou não. Mas é sempre melhor (e mais doce) perspectivar e sonhar assim.

Thursday, March 04, 2010

Visão de um dia qualquer

Há dias clarificadores. Sem razão aparente (mas por alguma, certamente) algo te desperta. Sentes-te crente de um determinado factor/pessoa/sonho da tua vida e tudo se afigura mais feliz e desperto (e uma coisa não implica a outra - a conjugação é um oásis). A compreensão daquilo com que podes contar é uma bênção, é importante conseguires entender de onde podem vir os golpes, antecipá-los sem pensar muito neles, preparares o remédio para um corte que, mais ou menos profundo, terá sempre de ser sarado. E, para isto, é preciso tempo. Tempo de reflexão e não reflexão, entendimento e análise do (teu) mundo e uma abertura preciosa para quaisquer conspirações do Universo. Quando assim estamos é mais fácil que ele conspire a nosso favor.
E aquele bom dia.