Conseguiu dizer o que por vezes penso, falou de se olhar ao espelho, falou da gana de conhecer a génese da própria criação, falou da sua vontade de escrever e da sua incessante necessidade de se reconhecer enquanto escritor e de não querer mudar esse quadro que dura desde os oito anos, dura de certeza desde que nasceu. Como me dura a mim. E deu-me uma lição:~
O bloqueio do artista? Não acredito nisso: os bloqueios, que são constantes, solucionam-se marrando contra o papel, mesmo que não se obtenham resultados, até os resultados virem. Acabam por vir, é uma questão de teimosia e paciência. (...) de tempos a tempos vem a necessidade de recapitular. E uma conversa deste género talvez possa ser útil a quem nasceu com a mesma sina: sob certos aspectos os escritores são monotonamente iguais. E esses que nasceram com a mesma sina compreenderão porque não se acham sozinhos: anda por aí, a maior parte das vezes sei lá onde, uma criatura com as perplexidades, os entusiasmos e os desesperos que lhes pertencem. E esta partilha de um fado alivia. (...) Depois cada um morre no seu canto e deixou de ter importância, a morte, porque algo de vivo ficou, uma espécie de luzinha que não se extingue jamais.
António Lobo Antunes
E, ainda parafraseando-o, (escrever) Não é, não sei como dizer, não é um trabalho de inocência (qual trabalho de inocência) é um trabalho de oficina. Fico todo dentro da coisa, a mexer nela. Acordo com ela, deito-me com ela, passo o dia inteiro com ela, ela e eu (é dificil exprimir isto) somos o mesmo organismo, não parte um do outro, o mesmo organismo.
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