Encheste-me o copo e senti-me complexa e extravagante. O vinho correu por mim e fingi estar ainda atenta aos pormenores em que me encantaste. Fingiste estar concentrado em algo difuso, como se pudesses alguma vez escolher as palavras. Há momentos em que não as temos, um dia aceitarás isso, juntamente com as explicações que não existem. Talvez tu saibas, ou só precises de tempo. Olhaste-me e puseste a mão nos meus olhos, como que a esconder o azul que te penetrou as entranhas e magoou terrivelmente o mundo que criaste. O mundo em que me descriaste. Surrupiaste-me as palavras e de repente o nosso silêncio congelou-me. O vinho era agora mais turvo e o teu sorriso era o corrimento de um rio que me afogava. A ti também, mas lutavas desenfreadamente contra aquilo que nos recusamos a chamar destino. Lembraste-te de mim há um tempo, a roubar-te côdeas e a gabar-te a timidez, a pertencer a um mundo que não conhecias, lembraste-te de quando não tinhas de me tapar os olhos para não te ver, quando me ensinaste o a e o b e eu pura e simplesmente não aprendi entre um sopro e um banco vazio. Quando nos lembramos de tudo o que fora, também nos lembramos do que pode o tempo evitar só pela sua existência matreira. E nunca sabemos se queremos que ele passe para nos esquecermos mais, ou se queremos que ele pare para nos sentirmos dentro e não termos ainda de nos esquecer.
Noites? Noite.
Noites? Noite.
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