Sunday, April 20, 2008

Ode a...

Acordar. Definições damo-las sem entender porquê, acabamos por reconhecer a indiferença. Raramente nos perguntam o que quer realmente dizer uma determinada palavra, apesar de sempre ouvirmos o "o que queres dizer com isso", meia dúzia de vezes por dia... Quando me ouvem dizer que tenho saudades, não sabem o que sinto... então aqui, à laia de dicionário o exponho... as minhas saudades, todas, de tudo o que sou eu.

Saudades é falta de correr para o parque infantil do parque de campismo e ver a minha prima rir-se para mim e fazer ar de quem é mais veloz. Saudades é falta de montar a tenda, de lavar a loiça no alguidar amarelo e ver os lotados jogos de futebol. Saudades é falta da casa antiga dos avós, da galinha que comi mesmo sendo a minha melhor amiga e daquele burro do duna parque em milfontes que só comia as minhas cenouras. Saudades é sentir falta do momento depois do banho quando iamos ver o pôr do sol acima das dunas, quando davamos a volta a correr à piscina a rezar para cairmos para haver mais um momento de emoção, quando queriamos ir ao forte ouvir os índios que também cantam na baixa e comprar pulseiras de missangas. Falta de quando o malhão era sinónimo de silêncio. Saudades é sentir falta de ir à feira popular chatear a Catarina e pedir bitoque. Saudades é sentir falta de fazermos uma compilação de música, de inventarmos jogos sem fronteiras, de corrermos até às rochas, de comprarmos almanaques antes da praia e de cantarmos Dunas e Mamonas Assassinas como se fossemos reis do som. Saudades é sentir falta de dizer "Ug" e imitar as cantoras da moda. Saudades do meu quarto na casa antiga. Saudades é sentir falta do colégio, dos pinos na parede do colégio, da sirumba, da macaca, de brincar aos médicos e de subir à árvore proibida. Saudades é sentir falta de jogar ao quarto escuro. Saudades é sentir falta da menina Herminia e da menina Albina, de não saber porque lhes chamávamos meninas. Saudades é sentir falta da baía, dos beijos roubados, dos sonhos acordados, da caça ao monitor e dos dias em que caminhávamos até à Nazaré e pediamos boleia quando era proibido. Saudades é sentir falta dos últimos dias, das lágrimas, dos abraços e da amizade que supera até a morte. Saudades é falta da big house, das reuniões dormidas, dos banhos falados, das piscinas e do "leaving on a jet plane". Saudades é sentir falta dos pré fabricados sem saber porquê, de chorar quando os deitaram abaixo, dos rebuliços na relva e das passagens fugazes. E dos abraços. E dos abraços... Saudades é falta de querer ser serena acima de tudo, falta do caldas, do texugo e da casa da SS. Saudades é sentir falta da Suécia, e da Alemanha, e da Áustria e de Moscavide. Saudades é falta do Algarve e da pousada, do Rossio e dos shots de pastel de nata. Da tasca fina. Da tasca fina com eles, da tasca fina com ele. Saudades é sentir falta da praia de São Pedro. Saudades é sentir falta da praia de São João. Saudades é sentir falta de nos rirmos agarrados a um poste em Santos, de gargalharmos a descer o chiado, de miar. Saudades é sentir falta de uma musa de tardes desocupadas. Saudades é sentir falta de Cannes, Mónaco, Veneza, Ljubljana, Zagreb, Split, Budapeste, Cracóvia, Praga, Berlim e Amesterdão. Saudades é sentir falta de pintar as unhas uma de cada cor, de comprar vernizes, de chorar a rir, de encontros inesperados, de sras polacas, de riminis, de pisas on fire, de saltos, de fotografias naturais, de comboios vazios, de estofos castanhos, de dormir na estação. Saudades é sentir falta da Garibaldi, da Vetovaille, da Cavalieri, da Dante e de todas as praças pisanas e italianas. Saudades é sentir falta de cantar na rua à noite, seja na Corso Itália, seja cheia de cocktails nas ruas de Praga. Saudades é sentir falta de fazer amigos em boteillon e levá-los por todas as minhas garrafas e gargalos e pedaços. Saudades é falta de correr para as minhas amigas, vê-las à porta do aeroporto e tomá-las nos meus braços como se tivesse sede delas. Saudades é sentir falta de as tomar no meu colo quando precisam e lembrar-me sempre do orgulho que tenho em tê-las, tê-las verdadeiramente. Saudades é sentir falta dos banhos de piscina à noite, dos sofás do hotel, do pachá, do corredor até ao elevador, dos momentos corona, do nosso quarto, da nossa cama enorme, do espelho da nossa casa de banho, das bóias, das esperguiçadeiras, dos jaguares e das pumas, das tartarugas, das borbuletas, dos phones partilhados, das cócegas nos pés, dos isidros, dos vestidos, do batido de banana, das panquecas e do buffet, das conversas, dos passeios, da areia, da água, dos pontões até ao mar, das cartas, das respostas, dos aviões, dos sinais...
Saudades é falta... Eu também sou saudades... Eu tenho a sorte de ter uma vida que inspira faltas...

[Ter-vos é o melhor de mim...]

3 comments:

jb said...

Com as tuas palavra reconstrui a tua vida. Foi giro, entrar dentro da tua cabeça :)
A tua escrita tem tanto sentimento que consigo sentir-te e ver-te.
Beijo

[r] said...

tenho saudades do pé descalço em Ipanema...

Sara said...

Alguem que compreenda as suadades q tho dessa cidade, MATAM-ME! Rio, QERO VOLTAR! qem és?

Nah, estes dias têm custado mto a passar...so qero voltar aqela cidade maravilhosa onde se sente o toque de Deus!