Saturday, October 24, 2009

Inesperado

Entrei naquele espaço. Tentei compreender as gargalhadas agarradas às paredes e o mundo entre elas. Encontrei imagens de uma realidade desconhecida e perguntei de quem era aquele ar. Visitei os armários e os lençóis, precipitei-me nas gavetas, encontrei um recôndito ponto escuro de uma sobrevivência aventureira de ser o que fazer. Estiveste sempre atrás de mim, não limitaste a minha busca, muitas vezes orientaste a minha mão. Talvez tenhas mesmo indiciado o meu tacto e lhe tenhas indicado o (meu) caminho. Não foi por acaso, prendias na luz do candeeiro um olhar novo e também querias saber onde eu ia e onde eu permaneceria, se não me pedisses para ficar. Olhaste-me carinhosamente e sorriste como uma criança, uma delícia de framboesa na forma como a tua mão absorvia o meu rosto ao passar.

Todos nós, todos, nos assustamos com a profundidade. Todos ficamos confusos e baralhados com o not suppose to be, no entanto, entre fugir e lutar, porque é que preferes fugir?

Friday, October 23, 2009

Foi hoje!

Não é todos os dias... acordar e conseguir entender o aconchego... abrir um sorriso como se abre uma persiana. Sentir o frio na espinha e ser inundada pela água quente do banho... Não é todos os dias que já acordamos felizes.

Thursday, October 15, 2009

Tenho(-te) tempo.

Queria pedir desculpa. Pedir desculpa ao tempo, vivo a vida a desdobrá-lo, a apoderar-me de todos os segundos para os fazer meus. Em cinco minutos consigo rodar o universo. Eu se fosse o tempo sentia-me desafiado, enroscado, encostado à parede. Eu imponho-me, tempo. Façamos esse braço de ferro. Quero-te para escrever furiosamente um parecer, para abraçar um amigo, relaxar numa massagem, comprar uma carteira ou dar uma risada numa esplanada à beira rio. Espero, sempre (e para sempre) conseguir desafiar-te. Nada me dá mais prazer. E quando o cansaço vier, fala tu com ele, diz-lhe que espere à porta.

Friday, October 09, 2009

...

Este fim de semana vou viver. Beber com os meus amigos, envolver tudo num sorriso e num abraço, encontrar uma festa de sabores, ler uma obra prima e deleitar-me com os meus lençóis. Este fim de semana vou viver.

Thursday, October 08, 2009

Tu.

Encontrei-te na rua. Não sei. [Foi quando mesmo?!] Diz-me a data em que te surripiaste. Eu disse-lhe que talvez quisesse chorar o que não te disse que por definição deveria ter sido dito mas que entendi através do silêncio.
Não sei.
Desconheço.
-te.
Encontrei-te na rua. Vi quando te sentaste. Gritavas amarguras por ver apenas a vida passar. Nunca a tentaste parar. "Mas que dúvida é essa de que poderia fazer qualquer outra coisa que não parar, por mim", porque eras tu e por ti pára [ou não pára?!].
Deixa-me, pela primeira vez, ensinar-te um pedaço de ser:
Não há, não haverá, milagres isolados. Acredito que eles acontecem quando agarramos a corda do tempo e os puxamos até nós. Acredito no amor, assim como acredito que as árvores crescem. Acredito na aventura de um ser constantemente em crescimento, assim como acredito que, na estação apropriada, todos os campos se cobrem de flores. Acredito na espera e na batalha, nos gritos e na confusão, na paz e na luta, acredito no tempo. No cada-coisa-a-seu-tempo. Mas acredito, mais, que somos nós que definimos o tempo. Ninguém vai lutar por ti, chorar por ti, morrer por dentro por ti, desistir por ti, virar uma página por ti. Tu és tu. O teu corpo, o teu sexto sentido e o teu sorriso quando partes e olhas para trás. Tu serás tu, sempre, por mais folhas que caiam, por mais que caias, por mais que te levantes. Tudo o resto é sonho. A diferença é a realidade que lhe atares. Atas? Já?

Tuesday, October 06, 2009

Mentiras perdoáveis

Invariavelmente, puxo-te para mim. Talvez o possa chamar de descontrolo: apetece-me arrastar-te, envolver-te, cheirar os teus cabelos, rebolar na tua pele, (in)compreender contornos que desaparecem... Somos estúpidos, nós, aqueles. Encaramo-nos como privilégios de uns privilegiados que não são privilegiados, mas que privilegiamos sem que mereçam. Entregamo-nos. E porque é errado soltamos mentiras à rua, vomitamo-las pela janela mas no fundo, no fundo, não há nada que queiramos mais que o errado. E sabe tão bem!