Tuesday, May 26, 2009

Alcance

Muitas (tantas!) vezes, queremos expor uma ideia, convencer, e simplesmente não somos capazes. Queremos dizer alguma coisa, mas mais fácil seria imprimirmos num abraço o ideário que nos passa na cabeça. A mente perfura todos os caminhos, tentando descortinar se ainda somos capazes, arrancar cabelos à toa e os pés a moverem-se de forma desconcentrada. É assim que me sinto, impotente. Quero gritar aos teus ouvidos tudo o que és, tudo o que significas, o teu sorriso de iluminar o mundo, de remover a pedra dianteira, os teus sapatos de biqueira de aço, tão certeiros e justos. Olha à tua volta. Não vou infectar-te com a doença do "o céu é azul" mas... não é que é mesmo? Não é que o vemos mesmo? Não é que nos entretemos como conseguimos e resta o nada porque mesmo alguma coisa nos parece nada, e queremos sempre mais para lhe chamarmos mais-do-nada depois? Está dentro de nós. Está perdido profunda e sinteticamente naquele lugar que não alcançamos mas... não faz mal receber a mão que vem de fora, pentear o cabelo de forma nova, sorrir com os dentes da alma e compreender que a vida, como a sonhámos, pode não estar aqui. Mas o futuro... bem, o amanhã é nosso.

Thursday, May 21, 2009

Compreender-me.

Visitei-te (como tantas vezes): tinhas os meus olhos, os meus cabelos, as minhas unhas. Usavas essa franja inglória e a cor azul como o perfume dos meus fiéis antepassados. Cerrei os olhos. Não te queria ver. A pouco e pouco fui franzindo o sobrolho para compreender se estarias mesmo ali e encaravas-me com a expressão ávida de sempre me conhecer e não mais subir os meus degraus, recriá-los, evoluir. O adro da igreja paria as modas e o meu sussurrar confuso desamparava-te gargalhadas; eu sorria, melindrada, à minha paixão com espinhos. Usavas a minha camisa, uma branca, que sempre foi branca mas que fica mais branca em ti. Fintaste os olhares de tantos outros para te escancarares no meu, desbravares esse caminho que sabias ser incapaz de engolir sozinho.

Ficaste pasmado de me ver partir aquelas muralhas, de me ver percorrer os montes, cobiçar as almas e as filosofias, manusear a minha percepção de um mundo encantado, onde a limitação sou eu e eu não me limito. Tiveste medo. Por isso ali ficaste, para sempre, longe, onde o sol nasce e o meu amor se põe.

Friday, May 15, 2009

A caminho de Bali (em pensamento...)

"O melhor do mundo é viajar sozinha. Pela liberdade, pela pureza, pela ausência de expectativas. A segunda melhor coisa do mundo é viajar acompanhada de alguém que caminha ao mesmo passo. Sem pesos, sem dependência, sem expectativas. Só surpresas."

[desculpa o roubo...]

Wednesday, May 13, 2009

Relevância maior

Porque há momentos na vida em que as coisas pequenas deixam de importar, as pessoas pequenas deixam de importar, os olhares pequeninos deixam de importar... e somos de novo crianças, um brilho astuto no olhar, uma exclamação por um sonho, um período feliz! Hoje sou feliz e se é para ser feliz "que seja o tempo todo!".

Parabéns, a nós!

Friday, May 08, 2009

Monologar

Deixei-te a porta entreaberta e assim ficou até desistir. Não desisto apenas do vinho do Porto e das lágrimas, desisto do delírio circundante ao nosso ser-ser que, aparentemente, nunca foi. Desculpa se finalmente chegamos ao ponto da ferida maior, intocável. Desculpa, cheguei ao ponto em que o teu vinho tinto não me atrai, o meu corpo é só meu e a minha cabeça arredonda as dúvidas que foram nossas. Mentira, nunca nada foi nosso. Sei a que sabes, conheço os meandros do teu toque e a forma como as tuas mãos circundavam a minha loucura adivinha, aquela que renunciava ao teu olhar e ao mesmo tempo o tragava de um golo apenas. Provei-te, como se prova um sereno amanhecer, devagar, até, de repente, compreender que de amanhecer tinha pouco, e que finalmente já não estavas ali (sim, estávamos ambos a ponto de anoitecer, longe!).
Tenho saudades das cócegas no meu umbigo, da tua linguagem corporal, de quando andavas à minha volta num círculo apertado e atiravas a minha gargalhada ao ar. E me beijavas. Não os meus lábios, a minha alma.
Entretanto, viajo por aí, conheço outros passeios e outras aventuras desavindas, bebo vinhos do Alentejo sem me preocupar com o sabor. Vi o sol nascer, toquei com os pés na areia, percorri com as mãos em fuga um relvado fresco e vi um belroreto à minha janela. E nada, juro-te, nada disto te pertence, nada disso é teu. Perdi os meses, nas veias o tornear confuso de outras mentes que não importa desvendar, não tenho mais os "nossos" problemas. Não sei quem discutirá por ti, que povo te defenderá dos lobos, quem cantará pela tua voz e te sugará o sorriso e te ouvirá dizer "tuuuuu". Nada do que é nosso é nosso, nada do que retirei da tua saliva insípida é mais meu e no entanto, nesse veneno que foi uma paixão fugidia, encontrei-me. Tu não serás meu, mas eu serei mais minha.