Tuesday, November 27, 2007

Discussão

Palavras. Palavras de uma perda, de uma tristeza vizinha de mim. Palavrinhas; palavrões. Silêncios, entremeados de uma mágoa sinistra, um desespero de uma felicidade que não passa e que, quando passa, passa no olhar do demasiado. Uma pequena poeira, um pequeno abraço, um grande sopro de norte que arrepia. E já não há palavras, a discussão cessou. Com ela cessa o vento e cessa o ardor. Uma pequena ligadura que tapa a ferida, que tapa o queimado. O sussurro quente de uma tatuagem que a dor deixou mas da qual ninguém se lembra mais. Mas ela fica, e fica, e fica... e vai ficando, a tatuagem, pequena, insegura, muitas vezes discreta. Engano: não se apaga mais.

Thursday, November 22, 2007

Jorge Palma - Encosta-te a Mim

E era assim que eu gostava do meu dia de anos: os amigos a chegar e, um por um, a darem-me os momentos que só com cada um tenho. Brilhante.

Wednesday, November 21, 2007

Fernando Pessoa inspira-me!

Existo. Sinceramente, existo mas nem sempre. Existo quando me quero, existo quando me quero querer. Ser ou existir, o pseudónimo que crio enquanto me olho do outro lado da janela, recrio o que gostava de ser quando não sou ou só existo. Tudo porque por vezes, realmente, apenas sei que acontece sentir, mas mesmo assim, avaliado com o peso do tempo, parece-me tudo pequenas ficções que eu criei e que criaram para mim. É verdade que deixo criarem, talvez. Deixo. Porque quero ser, percebes? Quero ser mas não sei se sempre sou. Mas fui. Às vezes fui.

[“Eu sou a sensação minha. Portanto, nem da minha própria existência estou certo”.]

Sunday, November 18, 2007

At...

Tenho sono mas tenho mais vontade de não dormir!

(Eu só sou mais eu quanto mais consigo ser... desculpa-me.)

"Há metafísica bastante em não pensar em nada!"

Há, realmente, como Ele diz, metafísica bastante em não pensar em nada. Tentar não pensar em nada é um exercício que só alguns experimentam, não pensar em nada poucos conseguem, não vá haver o grande facto de terem sempre factos pouco místicos, a vida, o seu carregar, em que pensar. Muitas vezes penso em nada, muitas vezes esse facto não é nada metafísico, muitas esse facto é-o, simplesmente, em mim.

Lembrança em Milão

"De repente, pauso no que penso
Escrever é preciso.
Viver não é preciso
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo."- Fernando Pessoa

Wednesday, November 14, 2007

Eu

Quem sou eu que não um nós invertido? Um nós que tive com todos os seres que passaram na minha vida. Ou então não só os seres, porque os nós-seres é um de-menos. Talvez o "nós" com aquela estrada por onde passei que viu comigo as minhas solas gastas, ou aquele papel onde marrei para conseguir escrever, o seu cheiro como meu e os meus cabelos os seus fios quase invisíveis. Quem sou eu que não me descubro e por mais que passe o vento de norte me desperto sempre à minha porta que juro, a cada dia, não conhecer? Quem está perdido como eu, entre pensamentos de almas atribuladas, tédios reconhecidos em conversas de animos exaltados, beijos ardentes de lençóis só sonhados...? Quem é aquele que se auto-intitula ser, aquele que não está, que finge permanecer e acredita nesse fingimento que o engana, a ele e aos vis, aqueles que perpetuam o seu acreditar irreal. Ser eu, ser uma flor!, ser depende do ângulo. Quando estou a noventa graus, apenas aí, sou. Tudo o resto é assemelhar-me a qualquer outro que persegue um caminho até casa. Assemelho-me a qualquer outro tantas vezes, e nessas tantas vezes (e, quem engano eu?; noutras mais ainda) sou apenas um nome, eu e aquele vocativo estranho onde, por vezes, nem me reconheço. O melhor é que acredito poder ser, eventualmente, nesses momentos em que me questiono, apenas um tédio de mim.

("Moro no rés-do-chao do pensamento e ver a vida passar dá-me tédio")

Tuesday, November 13, 2007

Como dire? Diccendo... Nuno Judice

"Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados.
Depois, na rua,ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus, do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que,
sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação."

Monday, November 12, 2007

Ser

Estou aqui, perdida. Talvez, perdida de confusa, quem sabe. Não estou triste, quem sabe um pouco desiludida com a vida que me mostra mais encantos do que aqueles que mereço em cada passo que dou. Foi como uma dádiva, eu que engravidei dela, que me dei a ela, eu e ela, o mesmo organismo. Dou-me às verdades, elas também grávidas de mim, elas, mais do que secundárias, o que mais me orgulho de, às minhas custas, querer seguir e querer perscrutar. Parar para ouvir o teu coração. Parar. Ouvi-lo. Saber que calmamente bate por mim e que eu calmamente bato dentro de ti, um pulsar constante e arrependido que nasce com força. Ser eu, seres tu, não cabe aqui. Ou melhor, caberá aqui enquanto não couber em mais nenhuma parte do mundo. Tu cabes em mim mas eu não posso pertencer a lado algum, sou como uma cidadã de um mundo que não quer pertencer-lhe. Não me conheces. Ou conheces? Eu não me conheço e não posso dizer-te quem sou porque nunca sei embora esteja sempre a dizer que acho que sei ou que acho que quero saber sem querer... Gosto, de ti, de ser. Gosto de sermos. Seremos. Enfim.

Saturday, November 10, 2007

...

Sinto-me um alter ego de mim... não sei se é hoje que me destrato em ruas secundárias ou se sou eu que me desencaixo e me desidrato de mim. Não sei se me trato e engravido de vida aqui, se vigora em mim a força inalcansável do ser para lá do existir, para lá da alma que lavo em cada passo que dou. Sou eu, enfim.


O melhor deste erasmus são as noites que passo sem dormir e penso na minha vida, nos sentimentos que passam pela minha alma todos os dias, pelas amizades que me tocam e pelas saudades que me assolam de vez em quando... Obrigada!

Wednesday, November 07, 2007

Roma!


A isto se chama enriquecer em viagem... Pisando chão de mundos ou chãos do mundo!

Perdoa-me

Amar-te, perdoa-me, é percorrer o teu desidrato veloz. Pelos teus olhos sussurrar a estranha sensação de perda em cada instante. Pertencer-me-te, desejar ardentemente o perigo delicioso de um atropelo, de um aperto, de uma razão em precisão de ti e do suco da tua alma. Sugar-te naquele desespero que me deste quando me abriste a porta e rezaste para que a réstia de luz me levasse, em mim, para sempre, por mais que a tarde caísse e tu me pudesses desejar... uma única vez, a cada segundo.
Sussurro expressões tocadas. Sussurras-me; tocas-me?! Que intervalo é esse onde sondas o cheiro dos meus cabelos e o meu pescoço te racha o perfume da incapacidade de ser e esperar e apetecer e sonhar e beijar e... amar-te, perdoa-me. Opio-te. Mas senti-lo, primeiramente, foi inesperado e inintencionalmente forte.

Monday, November 05, 2007

Momentos!


Não há nada que goste mais do que guardar momentos... momentos em que nos escondemos da máquina, em que viramos a cara, mas em que estamos juntas, em que vamos construindo um degrau cada vez mais nosso... Brindes aos momentos, brindes a nós a preto e branco e a cores... brindes a nós! Obrigada a alguém por ter inventado a amizade, obrigada por ter posto na minha vida gente que reinventa.

Herman Hess - ele é que sabe!

"L'amore non bisogna implorarlo e nemmeno esigerlo. L'amore deve avere la forza di attingere la certezza in se stesso. Allora non sarà più transcinato ma transcinerà!"

"O amor não necessita de ser implorado nem mesmo exigido. O amor deve ter a força de atingir a certeza em si própria. Assim, não será arrastado mas arrastará!"

Olavo dix it

"Estou na merda funda!" LOL - 14 Out 2007

(nunca basta estar na merda, nunca basta estar fundo! ;))

Roma e Roma; Pessoas e Pessoas!

Entro no autocarro e torço o nariz. "Mas porquê?", dizem-me elas. E eu olho de soslaio para as senhoras que se sentam perto de mim. Em vão abro a janela mas aquele perfume a vida não me sai da entrada das narinas. "Não está fácil", perco a sensação de entranhar-me em Roma mas ela entranha-se tristemente em mim. Sempre descrevemos um ambiente com o que vemos, com o que nos transmitem as imagens que captamos. Destes minutos de suplício tirei a estranha sensação de que há um mar de gente afastado de mim, do meu cheiro a vida, de todas as minhas possibilidades de emanar um cheiro a vida agradável que tanta gente não tem o poder de deixar sentir.
Sento-me na Piazza di Spagna. Cabeças torneadas pelo sol, milhares delas. E eu ali quando passa alguém e levanto o nariz em aprovação. "Passou alguém por nós que cheirava tão bem...", embala-me. Que boas são as Romas e Romas...